domingo, 10 de novembro de 2013

OS CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES DESBORDAM O PODER PUBLICO

Mais uma vez o Diario do Nordeste nos sorprende com uma dessas pesquisas bem fundamentada nos dados e na realidade da violência contra crianças e adolescentes.
Trata-se de dados para arrepiar á opinião publica: o que estamos fazendo? qual a moralidade das famílias atuais? Sãprioritárias para os governos -muicipal e estadual- as politicas que guardem os direitos de crianças e adolescentes? Qual o papel da sociedade, das ONGs, da Igreja...?

"Muitos dos casos de violência contra criança e adolescente ainda aguardam a instauração de inquéritos no Ceará
Dra. Erica, Defensora pública,
sempre pronta pra ajudar as crianças
O entra e sai de pessoas denuncia o montante de processos. A rotina na Delegacia de Combate à Exploração de Crianças e Adolescentes (Dececa), em Fortaleza, é puxada. Infelizmente, não faltam casos de maus-tratos, violência sexual, estupros. Uma realidade dura para aqueles que têm ainda tão pouco tempo de vida e marcas tão sofridas no corpo e na alma.

Só neste ano, mais de 298 inquéritos foram abertos, mas muitos encalham no meio do caminho por falta de profissionais para apuração

A menina Marisa (nome fictício), 9, chega na companhia de uma tia. Com os olhos chorosos e as mãos trêmulas, ela vem relatar, talvez, a cena mais difícil da vida. Possivelmente, foi vítima de abuso sexual e peregrinará, agora, entre salas de inspetores que, quem sabe, conseguirão achar "brechas" para investigar.

Enquanto espera, torce para não voltar para casa. "Tenho medo de me machucarem novamente", sussurra. Ela é uma das tantas Brunas, Sofias e Joanas que entram nas estatísticas da Dececa. Até setembro de 2013, segundo relatórios da delegacia, mais de 2.720 Boletins de Ocorrência (B.O.s) foram feitos, a maioria devido a abuso sexual e maus-tratos. Além disso, de 2007 para cá, mais de 4 mil procedimentos estão emperrados, sem inquéritos instaurados, todos parados.

"O fenômeno da violência contra este público, especialmente dos maus-tratos, compreendendo violências de ordem física, psicológica e negligência são consequências tanto da ação, como da omissão dos representantes legais, referências familiares deste público, ou seja, pais, mães, avós", é o que diz Isabel Sousa, advogada, integrante do Fórum DCA e do Núcleo de Estudos Aplicados Direitos, Infância e Justiça (Nudi-jus) da Faculdade de Direito UFC, ao relatar que o agressor, muitas vezes, está dentro de casa.

Até parece fácil fazer a denúncia inicial. A dificuldade maior se dá, conforme funcionários da Dececa (que pediram para não se identificar), quando é para se realizar a investigação. Só neste ano, mais de 298 inquéritos foram abertos: 176 por estupro a vulneráveis, 50 por lesão corporal, 17 por estupro, 16 por exploração sexual, 11 por ameaça e outros tantos.



Entretanto, muitos desses "encalham" no meio caminho por falta de profissionais para apurar. Atualmente, a delegacia conta com seis escrivães. O ideal seria, conforme os servidores, ter o dobro disso.

A reportagem tentou contato com a gestão da Dececa para tratar do déficit de funcionários e medidas a serem tomadas para diminuir o número de procedimentos sem investigação, mas, até o fechamento desta edição, as ligações não foram atendidas.

Conforme a escrivã da Dececa e chefe do cartório, Andreia Covas, a demanda de trabalho, está crescente, muitas são as violações contra crianças e adolescentes, a maioria delas caracterizadas por estupro e lesão corporal.

"Infelizmente, a gente vê de tudo aqui. Tantas cenas absurdas. A sociedade parece ter perdido a noção de respeito, de cuidado com o outro. Falta a referência de família", diz.

Já Isabel Sousa lembra que é preciso alertar para a falta de conversa dentro de casa. "Uma questão a ser refletida é sobre o tempo (ou a falta dele) que as famílias têm de diálogo, convivência, trocas de afetos, carinhos e amor com seus filhos, que pode contribuir para a resolução positiva de conflitos".

A Constituição Federal coloca como prioridade a promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes. O dado nacional da Secretaria de Direitos Humanos, referente às denúncias do "Disque 100", em 2012 registrou mais de 130 mil casos de violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Em Fortaleza, entre janeiro e março deste ano, 250 denúncias foram contabilizadas no Município". 


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