E continuamos… E a pesar de tanta festa, no domingo
nos deram uma “folga”, pois nos disseram para irmos à praia. E assim fizemos.
Nossa “tia Grazi” com seu Moranguinho veio nos buscar às 8h da manhã para irmos
à preciosa praia do Cumbuco.
Chegamos e passamos uma manhã maravilhosa
desfrutando do sol e da linda praia. Almoçamos ali mesmo e enquanto
conversávamos e conversávamos, Paula e Basi aproveitaram as enormes ondas do
mar . Nós achávamos muito interessante as pessoas que vendiam queijo assado (
que faziam na hora) com um fogareiro rudimentar. Também vendiam camarões e
cajus, que são típicos daqui e são muito gostosos.
A Praia não estava muito cheia, como acontece em
nossa costa española. Apesar da sua beleza, aqui também chega a insegurança de
Fortaleza.
Bom, depois de almoçar, voltamos ao LSM por volta
das cinco da tarde. Pudemos comprovar que S. (a menina que chegou no sábado)
estava encantada e queria ficar no LSM. Não tenho palavras para expressar a
enorme satisfação que sinto e sentimos quando pensamos que tem uma a menos na
rua.
A
segunda-feira começou com as
aulas normais e como a tia Grazi retornou ao trabalho, nós lhe ajudamos em uma
casa enquanto Paula e Basi, juntos, davam aulas às meninas em outra casa.
De novo senti muita impotência. Muitas meninas
chegam ao Lar sem nunca terem segurado um
lápis na vida e não sabem ler nem escrever... e quando elas são
matriculadas na escola, não vão para as turmas de acordo com o seu nível , mas
de acordo com a sua faixa etária. Pelo amor de Deus! Alguém pode explicar como
uma menina de catorze anos pode ficar em uma sala de aula com meninas da sua
idade, estudando geografia e história ou resolvendo multiplicações, sem saber
ler??? Com certeza que NÃO ENTENDE NADA! Não é que não queira estudar, é que
não pode! E é o caso de nossa D. E ainda que no LSM tenham aulas de reforço,
não conseguem chegar em tão pouco tempo ao nível necessário. Tudo isso já
imaginávamos, mas quando chegou a tia Grazi e dividimos com ela essa situação,
pudemos comprovar de fato.
Pela tarde, tínhamos
uma visita programada a família de uma das meninas e para ali fomos. Era outra
área de favela, em outro lugar, mas igual a todas as outras áreas de favela. E
quando sentimos o mal cheiro, já sabíamos que tínhamos chegado ao destino.Desta
vez em uma área que passava o trem. A Luiza me dizia que muitas crianças já
tinham morrido na linha do trem porque não tem nenhum tipo de segurança e como
as crianças passam tanto tempo nas ruas, ficam por ali mesmo, brincando na
linha férrea.
Bom,chegamos ali e
não estavam. Logo veio uma mulher pedindo, por favor, que nós a levássemos até
a sua filha.
Esta é a sua história
resumida: tinha três filhos, um rapaz de catorze anos e um casal de gêmeos de
onze anos. O mais velho já teve problemas com a justiça e não ia para o
colégio e se “aproveitava” da sua irmã.
Começaram a sair os vizinhos e a confirmar a história. Com muito cuidado nos
levariam até ele e a verdade é que tinham razão. A menina, que era a vítima,
tinha que sair dali. A nossa Luiza, por um lado, falava com a menina; e por
outro, Lucélio confirmava por telefone a suspeita. Não levamos a menina
imediatamente para Lar porque é necessário oficializar a ação, mas a levamos
para a casa de umas freiras que trabalham nessa área da favela. Ali as irmãs
cuidaram da menina deixando que ela descansasse até a manhã seguinte quando íamos
pegá-la para levar ao LSM .
Nós voltamos para o
LSM tristes, pois não acredito que por mais que vejam tantos casos como este,
se acostumem com essas coisas. Mas ao mesmo tempo alegres, pois na manhã
seguinte a menina estaria conosco.
E assim foi. Levantamos
cedo como todos os dias e às sete da manhã as meninas já estavam em suas aulas
de reforço e por volta das dez e meia, na maravilhosa Kombi, fomos pegar a
menina.
As irmãs nos falaram que a meninas tinha comido muito e que esteve todo o tempo descansando. E a sua carinha quando nos viu se iluminou de alegria e rapidamente foi pegar a pequena bolsa com seus pertences que sua mãe tinha lhe dado e nós a trouxemos para o LSM.
As irmãs nos falaram que a meninas tinha comido muito e que esteve todo o tempo descansando. E a sua carinha quando nos viu se iluminou de alegria e rapidamente foi pegar a pequena bolsa com seus pertences que sua mãe tinha lhe dado e nós a trouxemos para o LSM.
Continuo surpresa
com o modo que as outras meninas recebem as “novatas”. Não perguntam nada,
somente as abraçam e ficam ao seu redor. Sabem que é por alguma coisa ruim que estão ali, igual a
cada uma que chega.
A tarde foi
tranquila. Bom, durante o último fim de semana
aproveitamos para repassar na cabeça das meninas (que se coçavam além da
conta) xampus e loções contra piolhos que trouxemos da Espanha ( que graças a
Deus nos doaram) porque aqui no Brasil são caríssimos, como todas as coisas,
parecem que são só para os ricos.
Depois foi
maravilhoso ver que nas aulas de reforço que tinha com a D. ela conseguiu ler suas
duas primeiras palavras. Quando lhe parabenizamos e comentamos com a Roberta,
sua mãe social, a menina começou a chorar. Com certeza que para ela isso valia
mais que ter sido aprovada na escola todos esses anos. A menina começou a ter
mais segurança e tem agora tanta vontade de aprender que amanhã, ainda que seja
feriado, vai ter aulas de reforço comigo para continuar aprendendo a ler.
Mais uma vez,
obrigada, Lar Santa Mônica.
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