terça-feira, 28 de agosto de 2012

DIARIO DE BORDO DOS VOLUNTÁRIOS DA ESPANHA - 6º


E continuamos… E a pesar de tanta festa, no domingo nos deram uma “folga”, pois nos disseram para irmos à praia. E assim fizemos. Nossa “tia Grazi” com seu Moranguinho veio nos buscar às 8h da manhã para irmos à preciosa praia do Cumbuco.

Chegamos e passamos uma manhã maravilhosa desfrutando do sol e da linda praia. Almoçamos ali mesmo e enquanto conversávamos e conversávamos, Paula e Basi aproveitaram as enormes ondas do mar . Nós achávamos muito interessante as pessoas que vendiam queijo assado ( que faziam na hora) com um fogareiro rudimentar. Também vendiam camarões e cajus, que são típicos daqui e são muito gostosos.
 
A Praia não estava muito cheia, como acontece em nossa costa española. Apesar da sua beleza, aqui também chega a insegurança de Fortaleza.

Bom, depois de almoçar, voltamos ao LSM por volta das cinco da tarde. Pudemos comprovar que S. (a menina que chegou no sábado) estava encantada e queria ficar no LSM. Não tenho palavras para expressar a enorme satisfação que sinto e sentimos quando pensamos que tem uma a menos na rua.

A  segunda-feira começou com  as aulas normais e como a tia Grazi retornou ao trabalho, nós lhe ajudamos em uma casa enquanto Paula e Basi, juntos, davam aulas às  meninas em outra casa.

De novo senti muita impotência. Muitas meninas chegam ao Lar sem nunca terem segurado um  lápis na vida e não sabem ler nem escrever... e quando elas são matriculadas na escola, não vão para as turmas de acordo com o seu nível , mas de acordo com a sua faixa etária. Pelo amor de Deus! Alguém pode explicar como uma menina de catorze anos pode ficar em uma sala de aula com meninas da sua idade, estudando geografia e história ou resolvendo multiplicações, sem saber ler??? Com certeza que NÃO ENTENDE NADA! Não é que não queira estudar, é que não pode! E é o caso de nossa D. E ainda que no LSM tenham aulas de reforço, não conseguem chegar em tão pouco tempo ao nível necessário. Tudo isso já imaginávamos, mas quando chegou a tia Grazi e dividimos com ela essa situação, pudemos comprovar de fato.
Pela tarde, tínhamos uma visita programada a família de uma das meninas e para ali fomos. Era outra área de favela, em outro lugar, mas igual a todas as outras áreas de favela. E quando sentimos o mal cheiro, já sabíamos que tínhamos chegado ao destino.Desta vez em uma área que passava o trem. A Luiza me dizia que muitas crianças já tinham morrido na linha do trem porque não tem nenhum tipo de segurança e como as crianças passam tanto tempo nas ruas, ficam por ali mesmo, brincando na linha férrea.

Bom,chegamos ali e não estavam. Logo veio uma mulher pedindo, por favor, que nós a levássemos até a sua filha.
Esta é a sua história resumida: tinha três filhos, um rapaz de catorze anos e um casal de gêmeos de onze anos. O mais velho já teve problemas com a justiça e não ia para o colégio  e se “aproveitava” da sua irmã. Começaram a sair os vizinhos e a confirmar a história. Com muito cuidado nos levariam até ele e a verdade é que tinham razão. A menina, que era a vítima, tinha que sair dali. A nossa Luiza, por um lado, falava com a menina; e por outro, Lucélio confirmava por telefone a suspeita. Não levamos a menina imediatamente para Lar porque é necessário oficializar a ação, mas a levamos para a casa de umas freiras que trabalham nessa área da favela. Ali as irmãs cuidaram da menina deixando que ela descansasse até a manhã seguinte quando íamos pegá-la para levar ao LSM .
Nós voltamos para o LSM tristes, pois não acredito que por mais que vejam tantos casos como este, se acostumem com essas coisas. Mas ao mesmo tempo alegres, pois na manhã seguinte a menina estaria conosco.

E assim foi. Levantamos cedo como todos os dias e às sete da manhã as meninas já estavam em suas aulas de reforço e por volta das dez e meia, na maravilhosa Kombi, fomos pegar a menina.
As irmãs nos falaram que a meninas tinha comido muito e que esteve todo o tempo descansando. E a sua carinha quando nos viu se iluminou de alegria e rapidamente foi pegar a pequena bolsa com seus pertences que sua mãe tinha lhe dado e nós a trouxemos para o LSM.
Continuo surpresa com o modo que as outras meninas recebem as “novatas”. Não perguntam nada, somente as abraçam e ficam ao seu redor. Sabem que  é por alguma coisa ruim que estão ali, igual a cada uma que chega.
A tarde foi tranquila. Bom, durante o último fim de semana  aproveitamos para repassar na cabeça das meninas (que se coçavam além da conta) xampus e loções contra piolhos que trouxemos da Espanha ( que graças a Deus nos doaram) porque aqui no Brasil são caríssimos, como todas as coisas, parecem que são só para os ricos.
Depois foi maravilhoso ver que nas aulas de reforço que tinha com a D. ela conseguiu ler suas duas primeiras palavras. Quando lhe parabenizamos e comentamos com a Roberta, sua mãe social, a menina começou a chorar. Com certeza que para ela isso valia mais que ter sido aprovada na escola todos esses anos. A menina começou a ter mais segurança e tem agora tanta vontade de aprender que amanhã, ainda que seja feriado, vai ter aulas de reforço comigo para continuar aprendendo a ler.
Mais uma vez, obrigada, Lar Santa Mônica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário